Foto por Evellyn Bento |
Era a quarta vez que eu
estava ali, parado no espelho, ajeitando aquela blusa social tão desconfortável
e tentando parecer não tão nervoso. “Ó céus, melhore essa cara, é só uma
entrevista de emprego!”, eu dizia ao meu reflexo. Mas, é claro que falar era muito
mais fácil. “Talvez se eu estivesse usando aquela minha camisa do Batman eu ficaria bem mais confiante...
Ok, já passei tempo demais na frente desse espelho, estou parecendo até minha
mãe!”.
Peguei minha maleta, e
saí. E ao pisar do lado de fora do prédio, não pude deixar de observar o quanto
o tempo não estava ajudando. O sol, parecia ter sido sequestrado, as nuvens
estavam densas e escuras, é, isso com certeza era um ótimo sinal. Resolvi olhar as horas para ver se realmente ainda
eram duas da tarde, e DROGA, eu estava vinte minutos atrasado.
A ideia, inicialmente,
era fazer uma caminhada até o gigantesco edifício da indústria de pesquisa e tecnologia afim de
conter meu nevorsismo, mas, com esse curto espaço de tempo, não haveria outra
forma a não ser pegar um táxi até o local. “Será que não tem jeito disso ficar
pior?”. E o som de um trovão ecoou pela cidade assim que entrei no táxi. “Mas é
claro, com certeza poderia ficar pior!”. Se antes o tempo já não estava dos
mais calorosos, agora, o cenário havia ficado sombrio, a cidade estava escura,
fria e... úmida, e eu só olhava pela janela do carro, torcendo para minhas mãos
pararem de tremer e minhas pernas pararem de balançar com tanta rapidez.
“Aqui,
sim?”, ah sim, esqueci de mencionar, o motorista do táxi falava muito mal o meu
idioma, se ele entendeu o local para onde eu queria ir? Eu acho que não, pois
acabávamos de estacionar em frente a um prédio abandonado e macabro, numa rua
que eu desconhecia. “Para onde o senhor me trouxe, ainda estamos na cidade?” eu
perguntei aflito. “Seu destino, na sua frente!”, ele respondeu com uma
feição confusa. “Esse não é o prédio certo, olhe para esse local, está
abandonado, caindo aos pedaços! Por favor, senhor, o edifício fica no centro!”,
eu expliquei, mas ele ainda parecia confuso.
Certo, eu
não poderia perder mais tempo, decidi abandonar aquele táxi bem ali, e pegar
outro, que de preferência o motorista entendesse minha língua, mas, eu esqueci
de um pequeno detalhe, ao sair de casa, eu não peguei meu guarda chuva, e o
resultado de tudo isso foi: roupas ensopadas e um motivo a mais para tremer.
A rua
estava deserta, e a chuva cada vez mais forte, a única marquise era a do prédio
abandonado. Eu não tive escolha a não ser me abrigar embaixo dela. Eu observava
a espera de avistar um táxi, mas eu não via nenhum carro, apenas algumas poucas
pessoas maltrapilhas e com feições nada amigáveis, com certeza não era um
bairro muito frequentável. Até pegaria o celular afim de ligar para alguém vir
ao meu encontro, mas não ali. Olhei para o relógio e faltavam apenas dez
minutos para a entrevista começar, meu coração estava quase saindo pela boca,
foi quando ouvi alguns passos e uma risada assustadora logo atrás de mim. Tomei
coragem e olhei para trás, e, teria sido muito melhor se eu não tivesse olhado.
Eu não
consigo nem descrever o pavor que me invadiu naquele momento, à minha frente,
uma criatura pavorosa me olhava com um sorriso maníaco. Seu rosto estava
pintado de branco, seus dentes continham sangue, que manchava-lhe a boca. Seus
olhos eram negros e assustadores, ele trajava uma roupa circense, e, podem me
chamar de maluco, mas ele parecia um palhaço de festa de aniversário, mas
possuído por um espírito maligno. Seu movimento ao agarrar minha camisa e puxar
para dentro daquela construção medonha foi tão rápido que não consegui reagir,
ele me arrastou para uma sala escura e com odor pútrido, com paredes manchadas
de sangue e ratos mortos espalhados pelo chão. Meu estômago embrulhou, e a
criatura me empurrou para o chão. Eu tentei fugir, mas ele havia trancado a
porta, e ao me observar tentando abri-la inutilmente, soltou uma gargalhada que
gelou minha espinha.
O palhaço
apanhou um machado e acertou com ferocidade um rato que estava por ali. “Seu
nome!”, sua voz era bizarra e perturbadora. Eu estava amedrontado, não consegui
responder. “Seu nome, garotinho”, e
soltou mais uma risada. “Ph-phillip”, eu disse gaguejando. Ele então se virou
para mim, e balançou o machado. “Isso é para você!”, e mais uma vez aquela
risada ecoou pela minha mente.
Eu estava
paralisado, amedrontado, aquele olhar estava sob mim por tempo demais, e o
terror me fez sentir completamente impotente. Ele apenas me olhava, balançando
o machado de um lado para o outro, parecia me analisar internamente. Foi quando
sua expressão mudou, e ele finalmente parecia ter tomado uma decisão. Eu senti,
que ali, naquele lugar desconhecido e terrível, em frente a uma criatura
amedrontadora, seria meu fim. Ele levantou o machado e eu apenas fechei os
olhos. “Phillip Maters, você está contratado!”. Aquela simples frase, me fez
abrir os olhos, o reflexo do sol, vindo de uma enorme janela de vidro, batia em
meu rosto. Á minha frente, um senhor forte, vestindo um terno aparentemente
caríssimo, estendia a mão para mim, eu estava sentado numa cadeira confortável,
num escritório luxuoso, no último andar do edifício da renomada indústria.
Eu rapidamente apertei sua sua mão com um enorme sorriso. Aquela frase, desfez
meus medos. Aquela frase, mudou a minha vida.
Se você chegou até aqui, agradeço profundamente! Este conto foi escrito por mim, Caroline Eulália, em resposta à um desafio feito por minha parceira do HSF, Carla Lorena, onde eu deveria escrever um conto que abordasse um medo.
Ah, e a bela imagem que ilustra esse post, foi fotografada na nossa cidade, Juiz de Fora, pela incrível fotógrafa Evellyn Bento! Se eu fosse você ia correndo conferir mais imagens feitas sob o olhar dela em seu Instagram e em seu Flickr, garanto que você não vai se arrepender!
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